quinta-feira, 4 de agosto de 2022

quarta-feira, 11 de maio de 2022

               

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   RESULTADOS DE PESQUISA SOBRE PBL EM HISTÓRIA.





A Aprendizagem Baseada em Problemas ou Problem Based Learning (PBL), é um método de estudo que tem como foco a resolução de problemas reais, que respeita os conhecimentos prévios dos estudantes, que são o centro do processo de aprendizagem. O trabalho abaixo é uma aula de História pensada como sugestão para que o modelo possa ser usado de acordo com o Currículo de São Paulo.

Para baixar o PDF é necessário enviar e-mail para wuesllen@professor.educacao.sp.gov.br, solicitando a senha.

 

Saudações acadêmicas!



Clique aqui para baixar o PDF: 👉S.A: PBL NAS AULAS DE HISTÓRIA


 

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

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 HISTÓRIA E GEOGRAFIA. ELABORADO PELA EQUIPE DE CIÊNCIAS HUMANAS DA DIRETORIA DE ENSINO DE REGISTRO-SP

☝👀💥🙈


Boa tarde!

     Professores e professoras de Ciências Humanas, esse link aí em cima, é parte de nossas ações em ATPC para favorecer o estudo das habilidades do Currículo em Ação. Trata-se de um simulado que vocês podem estar enviando para seus estudantes de 9º ano, caso desejem. São questões de geografia e história que caíram na última AAP do terceiro bimestre de 2021.
   Elas têm um tempo, cada questão tem duração de três minutos, os estudantes conseguem ver quais questões estão erradas e certas e podem ir progredindo a cada tentativa. Eles gostam deste tipo de game porque podem competir e aprender ao mesmo tempo. Cada link tem duração de 1 dia, aproveitem e trabalhem estas questões com eles. 


Vou produzir um vídeo tutorial sobre o uso da plataforma Quizziz e depois posto aqui, mas façam o teste com o link que estou enviando e depois digam como foi a percepção dos estudantes, beleza?!!

Até a próxima!







quinta-feira, 28 de outubro de 2021

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ASSISTA AO VÍDEO COM MAIORES DETALHES DO PROJETO TRILHA ANTIRRACISTA NO MINECRAFT. 


MINECRAFT NA SALA DE AULA - EXPLICAÇÃO

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    A pandemia de coronavírus trouxe-nos uma situação até então inimaginável, o afastamento de uma geração das salas de aulas pelo mundo. A necessidade de distanciamento social pelo controle da infecção e contágio foi necessária à toda a sociedade, mas o ensino, principalmente nos níveis iniciais de educação básica ficaram prejudicados sobremaneira. Os motivos, a falta de preparo de uma boa parcela dos docentes para lidarem com as tecnologias educacionais plugadas e desplugadas, as metodologias ativas e o bicho papão chamado ensino híbrido.

    Passados quase dois anos desde o início de toda essa situação, as escolas têm retornado aos seus trabalhos de forma presencial, e uma coisa é certa, a tecnologia veio para ficar. Muitos professores passaram pelas barreiras do medo do novo tecnológico e estão praticando e ousando aplicar atividades diferenciadas e mais próximas dos desejos dos estudantes, porque o fato é que essa geração já entra na sala de aula com um nível de domínio absurdo da parte de jogos, e o que nós precisamos fazer é usar as plataformas existentes que possam ensinar de uma maneira divertida e inteligente essa nova geração de crianças.

    Por outro lado, é sabido que muitas crianças não tiveram acesso aos meios de comunicação e informação enquanto estiveram afastadas das escolas, por isso mesmo, a instituição escolar poderá inseri-las neste mundo dentro de seu ambiente, usando seus próprios computadores, ou data-shows e outras possibilidades que os professores acharem mais viáveis, sempre pensando nas necessidades que forem observadas com base nas avaliações diagnósticas feitas no começo dos trabalhos didáticos a cada período letivo.
    Para finalizar, o ensino de História foi, como todos nós sabemos, não deveria sê-lo, encarado como monótono e repetitivo, "por elencar datas e períodos de tempo longínquos'', e por isso, visto por muitos estudantes ao longo das suas trajetórias escolares como mais uma "matéria" a ser cumprida. Isso é reflexo da metodologia que durante anos prevaleceu, onde o decorar longos textos e reproduzi-los, vírgula por vírgula, era mais valorizado por uma parcela de professores, do que analisar e criar sentido para os documentos e narrativas com a participação dos estudantes.  
    Tudo é História, História é vida e vida deve ser vivida desde a tenra idade, a plataforma ora escolhida para nosso trabalho em ATPC, a Minecraft, é uma dessas novas ferramentas tecnológicas, que se bem utilizadas, com planejamento no cotidiano escolar, muito podem contribuir para o ensino da História.

 


Leia mais sobre o jogo Minecraft em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Minecraft>. Acesso em 03 nov. 2021.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

MINECRAFT NA SALA DE AULA


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Temas desenvolvidos em ATPC pelos PCNPs, Josimar José Rosa, Maria Helena Salvador Zanon e Wuesllen R. Marques

      By Canva: MINECRAFT NA SALA DE AULA 

             ☝☝  Clique no link acima!

    Em breve, teremos um vídeo explicativo das possibilidades de uso dessa ferramenta educacional.


ATPC POR ÁREA:  "Um recorte no Tempo e Espaço com olhar integrado nos componentes da Área de CHS explorando recursos tecnológicos" 

☝Clique aqui para ver a ATPC por completo





 Link de acesso ao vídeo: Desafios socioambientais - Quilombo Ivaporunduva. Eldorado (SP) 

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

 CURRÍCULO QUILOMBOLA NA ESCOLA CHULES PRINCESA

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 Wuesllen Rodrigo Marques

Universidade Estadual de Maringá - UEM

Mestrado Profissional em Ensino de História - Relações Étnico-Raciais e Educação Quilombola  no Brasil

30/08/18

Resumo

  O trabalho se insere na perspectiva de avaliar ações desenvolvidas para que um currículo escolar quilombola diferenciado seja implantado na Escola Estadual Maria Antonia Chules Princesa, localizada no município de Eldorado - SP.


Palavras chave: Educação diferenciada; escola; quilombo.


1-Introdução


A pesquisa tem como proposta conhecer a trajetória das comunidades quilombolas do município de Eldorado, localizado no Vale do Ribeira – SP no que se refere ao acesso à educação, suas lutas e caminhos na implementação de uma educação básica diferenciada e que respeite seus valores e modos de ser e encarar o mundo. O trabalho tem como foco as ações que estão em curso na Escola Estadual Maria Antonia Chules Princesa, primeira escola quilombola do Estado de São Paulo. Analisamos materiais didáticos e propostas que vêm sendo debatidas e avaliamos o papel dos diversos atores sociais e instituições envolvidas neste trabalho. Em um primeiro momento abordamos a história da comunidade e a história da fundação da Chules, depois trabalhamos na análise do currículo oficial do Estado de São Paulo, em alguns pontos que se referem ao trato da história do negro e como que isto é abordado em exercícios e imagens nos cadernos didáticos dos alunos. Focamos no estudo dos relatos do livro, Narrativas quilombolas (SEE/2017), e como estes relatos poderiam ser inseridos no trabalho de adaptação do currículo oficial à realidade dos alunos atendidos pela escola Chules.







2-Formação das comunidades quilombolas de Eldorado Paulista


                 A História da escravidão brasileira é longa e criou feridas que custam a cicatrizar, a lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que altera a lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", é um remédio que está sendo implementado  em doses homeopáticas, visto que passados quinze anos da sua existência , encontram-se barreiras em sua aplicação prática. 

                    Os quilombos do Vale do Ribeira surgiram ligados à mineração. “No século XVI as bandeiras de mineração iniciaram suas expedições partindo do litoral sul do Estado para o interior do Vale do Ribeira, levando junto indígenas e alguns escravos negros.” (CARRIL, 1995, apud, ISA, 2008). 

                   A definição de quilombo, ora utilizada para a análise das comunidades do Vale do Ribeira, são as da estudiosa Gloria Moura (2007), para esta autora:


Quilombos contemporâneos são comunidades negras rurais habitadas por descendentes de escravos que mantêm laços de parentesco. A maioria vive de culturas de subsistência em terra doada/comprada/secularmente ocupada. Seus moradores valorizam tradições culturais dos antepassados, religiosas (ou não), recriando-as. Possuem história comum, normas de pertencimento explícitas, consciência de sua identidade étnica. (SALTO PARA O FUTURO, 2007, p. 10).


                      Também conhecidas como terras de preto, nestes territórios a posse da terra se dá de maneira coletiva.


As denominadas terras de preto compreendem domínios doados, entregues ou adquiridos, com ou sem formalização jurídica, às famílias de ex-escravos, a partir da desagregação de grandes propriedades monocultoras. Os descendentes de tais famílias permanecem nessas terras há várias gerações sem proceder ao formal de partilha e sem delas se apoderar individualmente. (Censo Agropecuário, IBGE,  1980, apud  SALTO PARA O FUTURO,2007,p.11 ).


O regime político adotado após a abolição da escravatura não vislumbrava inserir os negros no ideal de nação, pelo contrário, conforme nos informa Gontijo:


A eugenia (eu =boa; genus =geração) fundamentou movimentos científicos e práticas políticas nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina em fins do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Tais movimentos pressupunham que o progresso estaria restrito às sociedades “puras”. (GONTIJO, 2009, p. 59).  

 

“Quando analisamos o pensamento educacional brasileiro depois da abolição da escravidão, o negro e sua cultura foram silenciados no currículo escolar.” (FELIPE; TERUYA, 2007, apud FELIPE, 2015, p.21). É negando-lhe o lugar no espaço do saber, impedindo-lhe o acesso aos bancos escolares, que a política de segregação e abandono da população afrodescendente se efetivou na República Brasileira, o documento raro a seguir nos dá evidências da política educacional adotada em relação aos quilombolas depois do fim da escravidão.


Decreto nº106 – de 18 de Dezembro de 1890”


 Suprime a escola primária do sexo masculino do bairro de Ivaporunduva, município de Xiririca (Eldorado- sp)


O governador do Estado, atendendo a que o bairro de Ivaporunduva, município de Xiririca está em decadência [...] de acordo com a Diretoria de Instrução Pública e no exercício da atribuição conferida pelo§ 2º do artigo 2º do decreto nº 7, de 20 de novembro de 1889,

Decreta: 

Artigo único – Fica suprimida a escola do sexo masculino do bairro Ivaporunduva [....]

Palácio do Governo do Estado de São Paulo, 18 de dezembro de 1890.

Jorge Tibiriça” (Lex – Coleção das Leis de Decretos do Estado de São Paulo – 1889 a 1891, Tomo I, 2º Edição Official, São Paulo: Imprensa Official do Estado, 1938). (PAZ,2013,p.56). 


                    Para (PAZ, 2013), o documento acima é reflexo de um racismo institucional, datado apenas um ano após a Lei Áurea, deixava claro como a educação escolar quilombola seria tratada no século XX. Os alunos quilombolas dos bairros Nhunguara, Ivaporunduva, Sapatu, Galvão, São Pedro e André Lopes sofreram durante anos com as dificuldades que iam desde transporte escolar até a permanência nas escolas da cidade de Eldorado. As crianças quilombolas eram obrigadas a atravessar o rio Ribeira de Iguape e saiam cedo de casa, pegando ônibus lotados e perdendo o interesse pela escola, muitos alunos se evadiam da escola devido à forma que eram tratados, tanto por professores, quanto por alunos urbanos, que os classificavam como “fracos”, desconsiderando a cultura quilombola. (PAZ, 2001, apud PAZ, 2013).

A mesma autora (2001) informa que, a comunidade do bairro Nhunguara protocolou documento pedindo a criação de uma escola de ensino fundamental II no bairro André Lopes, pois este é estratégico, localiza-se no entroncamento dos bairros vizinhos (Galvão, Nhunguara, São Pedro, Ivaporunduva e Sapatú) e dá acesso à Caverna do Diabo. A princípio as reivindicações foram negadas, mas as autoridades se atentaram para a realidade cruel das crianças quilombolas.

                   Em 2005, a escola Chules é inaugurada, ensejando o começo de uma longa luta para adaptar o currículo oficial do Estado de São Paulo à cultura quilombola. O nome da escola surgiu da homenagem das comunidades a Maria Antonia Chules Princesa, líder ancestral do mais antigo e conhecido quilombo da região, o Ivaporunduva. (PAZ, 2013)


                                       

Figura 1-Escola Estadual Maria Antonia Chules Princesa.

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               Fonte: Arquivo do autor (2018).


                       O governo do Estado de São Paulo instituiu uma base curricular comum a todas as escolas sob sua responsabilidade no ano de 2008, entretanto, a Chules Princesa está dentro de uma comunidade remanescente quilombola, e é a primeira escola quilombola do Estado de São Paulo. O fato de ser uma escola quilombola com um currículo comum às demais escolas do Estado gerou críticas por parte das lideranças e pais de alunos atendidos pela Chules, pois a especificidade da educação diferenciada não estava incluída no currículo oficial.


“Para apoiar o trabalho realizado nas cinco mil escolas estaduais, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo desenvolveu, em 2008, por meio da Coordenadoria de Gestão da Educação Básica, um currículo base para os anos iniciais e anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Com a medida, a Educação pretende fornecer uma base comum de conhecimentos e competências que, utilizada por professores e gestores das mais de cinco mil escolas estaduais paulistas, permita que essas unidades funcionem, de fato, como uma rede articulada e pautada pelos mesmos objetivos. Além desses documentos, o Currículo do Estado de São Paulo se completa com um conjunto de materiais dirigidos especialmente aos professores e aos alunos: os Cadernos do Professor e do Aluno, organizados por disciplina, de acordo com a série, ano e bimestre. Neles, são apresentadas Situações de Aprendizagem para orientar o trabalho do professor no ensino dos conteúdos disciplinares específicos e a aprendizagem dos alunos.” (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DE SP, 2018).


                   Um currículo baseado em competências e habilidades se instaurou, traduzindo uma política pública tecnicista articulada em padrões e índices de aprendizagens homogêneos para toda a rede estadual, rede esta complexa, desconsiderando as características específicas do alunado de cada região. Tal modelo educacional centrado nos resultados de provas externas surgiu  acoplado a estratégias de bonificações para escolas que atingirem índices satisfatórios no SARESP (Sistema de Avaliação Do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), a escola em questão realiza estas provas, e durante um longo período foi tendo fracassos, gerando cobranças por parte de gestores e da Secretaria da Educação. Quando falamos de “fracasso”, é porque os alunos ficaram aquém dos níveis de proficiência esperados para a série em que se encontravam. Para a disciplina de português, temos os seguintes dados: no ano de 2008, os estudantes do sexto ano atingiram o índice de 70% abaixo do básico, enquanto os do município ficaram com 36,9%. Os alunos do nono ano atingiram 46,9% abaixo do básico, e os do município ficaram com 30,1%. No terceiro ano do ensino médio, apenas 7,7% ficaram com o índice adequado de aprendizagem para o ano em que se encontravam. (Saresp, 2008).

                    Vejamos o que são estas competências e habilidades para a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.


Com efeito, um currículo referenciado em competências supõe que se aceite o desafio de promover os conhecimentos próprios de cada disciplina articuladamente às competências e habilidades do aluno. É com essas competências e habilidades que o aluno contará para fazer a leitura crítica do mundo, questionando-o para melhor compreendê-lo, inferindo questões e compartilhando ideias, sem, pois, ignorar a complexidade do nosso tempo. (CURRÍCULO DE SÃO PAULO, p. 12).


                           Um currículo centrado em competências e habilidades é o que delineou-se como padrão a ser seguido por todos os professores de São Paulo, os níveis de sucesso dessa política seriam medidos pelo Saresp. Entretanto, pesquisas como a de Luciana Guimarães Nascimento (2013), sobre educação das relações étnico-raciais nas escolas do Município do Rio de Janeiro apresentou os seguintes dados:


Constatamos que as escolas consultadas ainda não trabalham por uma educação étnico-racial e, a influência de elementos extraescolares norteiam ações pedagógicas, como no caso das políticas adotadas pelo Estado, que influenciam o currículo  oficial  seguido  pelas  redes  de  ensino,  inspirando  a  reprodução  de conteúdos  hegemônicos,  em  detrimento  a  saberes  inerentes  aos  indivíduos negros  africanos  em  diáspora.  Da  mesma  forma,  notamos  pilares  sustentados pela  ideologia  racista,  que  dificultam  uma  forma  de  pensar/agir  aberta  à diversidade cultural e étnico-racial inerente ao território brasileiro, favorecendo a propagação de atitudes racistas e discriminatórias contra os negros nas escolas. (GUIMARÃES, 2013, p. 7 apud MIRANDA, 2013, p. 114).



                       O currículo do Estado de São Paulo é uma ótima iniciativa no sentido de uniformizar os conteúdos que devem ser ensinados, reflete a necessidade de estabelecer uma base comum de aprendizagem, no entanto, no caso específico da escola quilombola, a lei estabelece a necessidade de se levar em conta a realidade local dos discentes e valorizar a cultura afrodescendente. Silva (1998) ensina que nos manuais e concepções históricas, negros e índios são esquecidos. Sua história acaba tratada de forma pejorativa em textos e ilustrações, reproduzindo preconceitos e estereótipos. (FELIPE, 2015, p.23). 

Assim, Felipe (2015) esclarece que não se trata de mudar o ensino de um viés eurocêntrico para o de uma matriz africana, mas que as escolas devem incluir, além das contribuições europeias, o ensino das outras culturas, como a asiática, indígena e africana.

                    Ao analisar o caderno do professor do oitavo ano, volume dois, na situação de aprendizagem seis, com o título: O processo de abolição da escravidão; deparamos-nos com uma visão de quilombo genérica, ao introduzir a ideia de quilombo como local de resistência, não se relacionam os diversos tipos de quilombos que ocorrem na atualidade. Vejamos como o manual trata do tema:


  “Anote na lousa as respostas principais, mas insista na questão da resistência, relembrando a organização de quilombos em todo o Brasil, que representavam atos de rebeldia permanente, organizados pelos escravos, e que ainda mantêm sua importância na atualidade, nas comunidades quilombolas” (CADERNO DO PROFESSOR DO ESTADO DE SP, 8º ANO, VOL 2,  pg. 37)


                    Além disso, o uso constante da palavra “escravo”, sempre relacionado à mercadoria e que realiza trabalhos degradantes, a meu ver, poderia ser uma das razões das reclamações dos alunos e lideranças quilombolas dos bairros que circundam a escola Estadual Maria Antonia Chules Princesa. Imagens recorrentes, como as de Jean Baptiste Debret favorecem estereótipos idealizados do negro nestes materiais.


Figura 2- O jantar no Brasil

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Jean-Baptiste Debret. Um jantar brasileiro, 1827. Aquarela, 15,7 x 21,9 cm (MEA 199). Foto: Horst Merkel. (CADERNO DO ALUNO, volume 1/ 8º ano de História. SEE/SP, pg.59).


                   No caderno do professor do Sétimo Ano, volume 2, com o título – Quilombo :Um símbolo de resistência à escravidão; mais uma vez nos deparamos com uma ideia de quilombo relacionada ao quilombo de Palmares, onde o objeto final da situação de aprendizagem seria a construção de uma maquete , baseada, no conceito de quilombo como local de fuga, onde os negros lutariam contra os capitães do mato.


 “O controle sobre os escravos era rígido, porém mesmo assim a fuga consistiu em prática constante. Assim, desde o início do século XVII, surgiram comunidades de fugitivos, os quilombos, e o maior deles, Palmares, durou quase um século (1605-1694). O quilombo era uma espécie de Estado independente, que desafiava a ordem colonial.” ( CADERNO DO PROFESSOR, SÉTIMO ANO, VOLUME 2, p. 38).


                   Ao mesmo tempo, novas pesquisas trouxeram a formação de quilombos não somente a partir de fugas e insurreições, mas de diversos outros contextos, como heranças de terras de antigos senhores, abandono das plantações e das terras em razão da decadência econômica ou pela compra de alforria e manutenção de um território próprio e a produção autônoma. (CARRIL, 2017). As comunidades quilombolas do Vale do Ribeira tiveram origem na mineração, como vimos, mas os alunos da Chules aprendiam a noção de quilombo do mesmo jeito que um aluno da capital do Estado.

A resolução n.8, de 20 de novembro de 2012, que definiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Quilombola  na Educação Básica (doravante DCN), nos esclarece que:


  Uma proposta de educação quilombola necessita fazer parte da construção de um currículo escolar aberto, flexível e de caráter interdisciplinar, elaborado de modo a articular o conhecimento escolar e os conhecimentos construídos pelas comunidades quilombolas. Isso significa que o próprio projeto-político pedagógico da instituição escolar ou das organizações educacionais deve considerar as especificidades históricas ,culturais, sociais ,políticas, econômicas e identitárias das comunidades quilombolas, o que implica numa gestão democrática da escola que envolve a participação das comunidades escolares, sociais  e quilombolas e suas lideranças. Por sua vez, a permanência deve ser garantida por meio da alimentação escolar e a inserção da realidade quilombola em todo o material didático e de apoio pedagógico produzido em articulação  com a comunidade, sistemas de ensino e instituições de Educação Superior. (Brasil, 2012, p. 26).

              

Sistematizadas em 2012, as diretrizes curriculares para a Educação Básica oferecidas em escolas quilombolas estabelecem que a cultura, a história e as tradições locais devem ser centrais no ensino. A valorização, porém, não inviabiliza o aprendizado das disciplinas tradicionais. “Muitas vezes as pessoas pensam que não é preciso trabalhar os conteúdos do núcleo comum. Isso não é verdade: Português, Matemática ou Geografia precisam ser transversalizados pela cultura daquela comunidade”, explica Maria Auxiliadora. (REVISTA CARTA EDUCAÇÃO, 2013). Sendo assim, a resolução 8 , de 20 de novembro de 2012, em seu artigo 37, nos adverte que  “  O currículo na Educação Escolar Quilombola pode ser organizado por eixos temáticos, projetos de pesquisa, eixos geradores ou matrizes conceituais, em que os conteúdos das diversas disciplinas podem ser trabalhados numa perspectiva interdisciplinar.”

 3- O CURRÍCULO ADAPTADO  NA CHULES

                   A construção do currículo adaptado da Chules parte da demanda da comunidade e das pressões do Conselho de Educação Escolar Quilombola, instituído pela resolução SE 51, de 13-8-2013. “No caso da Escola Maria Antonia Chules Princesa, o currículo ainda está sendo transformado. Desde 2011, estão em curso ações de formação de professores e a compilação de histórias e relatos tradicionais das comunidades atendidas pela escola. A ideia é que o material produzido a partir das entrevistas possa ajudar o professor a trabalhar a temática dentro de sala de aula.” (REVISTA CARTA EDUCAÇÃO, 2013). As diretrizes estabelecem novo marco na luta antirracista, principalmente, na luta quilombola. É interessante destacar, também, o belo trabalho realizado pelo Núcleo de Inclusão (NINC) da Secretaria Estadual da Educação que consiste em resgatar a história dos fundadores e lideranças das comunidades quilombolas para compor o material didático das escolas locais. Sem dúvida, um grande feito que em breve revolucionará o conteúdo curricular das escolas quilombolas. (PAZ, 2013)

Em 2017, o trabalho de pesquisa do NINC, junto com os técnicos da Diretoria de Ensino de Registro, deu origem a um livro; Narrativas quilombolas: dialogar – conhecer – comunicar,  com fins didáticos que reflete a necessidade consagrada na Resolução curricular nº8 de 20 de novembro de 2012. Um avanço na aplicação de uma educação que resgata a história de formação destes quilombos.

                    Em seu prefácio, os autores esclarecem que as lideranças das comunidades estavam preocupadas com a falta de material didático que contasse a história das populações negras no Brasil, e que buscaram registrar as narrativas quilombolas através de rodas de conversa e o resultado foi transformado em um material didático com a transcrição das entrevistas e outro com sugestões de atividades a serem desenvolvidas com os alunos.

                    A apresentação do livro é clara em reconhecer que as comunidades quilombolas lutaram para que sua voz fosse introduzida nos manuais usados pelos seus filhos nas escolas quilombolas.

O livro Narrativas quilombolas: dialogar – conhecer – comunicar representa uma parte da resposta oferecida pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo – SEE-SP, por meio do Núcleo de Inclusão Educacional- NINC à demanda colocada pelas comunidades quilombolas. O livro tem como objetivo oferecer possibilidades para a utilização de elementos do patrimônio material e imaterial quilombola na sala de aula. A educação tradicional quilombola é amparada em valores da oralidade que orientam e dão sentido à vida em comunidade. Por isso, é possível considerar o patrimônio material e imaterial quilombola enquanto portadores de uma dimensão didática, enquanto instrumentos de transmissão de cultura, história e tradições, cujo conhecimento, além de ser imprescindível no diálogo intercultural, pode contribuir para a melhoria da qualidade do sistema educacional, oferecendo novos recursos pedagógicos, pensados a partir de realidades particulares. (NARRATIVAS QUILOMBOLAS, 2017, p. 9).

                         Os professores da Chules vêm trabalhando na perspectiva de viabilizar um currículo adaptado que satisfaça as necessidades de uma educação escolar que priorize e valorize os modos de ser e fazer das comunidades atendidas pela instituição. Tomando por base a ideia de que não se pode abandonar o currículo oficial, mas sim trabalhá-lo numa ótica contextualizada à realidade do educando. O uso das narrativas dos mais velhos pode e está sendo usado com este fim didático. Tendo por objetivo analisar o material formulado pela Secretaria da Educação, através do NINC, em conjunto com as comunidades quilombolas e especialistas da área, fizemos a opção de focar a parte que envolve os relatos dos moradores dos bairros pesquisados.  

                   Em um momento de mudanças e valorização da cultura quilombola pelo poder público, falar de território, formas de uso dos recursos, etnicidade é dar voz aos sujeitos históricos envolvidos no processo de elaboração do conhecimento, e reconhecê-los como produtores de um saber válido, possível de ser ensinado e apreendido pelos jovens da comunidade. (CARRIL, 2017).


As experiências educacionais que se desafiam a construir uma pedagogia com base na cultura dos sujeitos como os quilombolas encontram um material muito rico nas narrativas, as quais se remetem à memória e às histórias de vida. A metodologia de história oral é um importante meio de trabalho em um processo educacional. (CARRIL, 2017, p.558)

                   Os relatos ora transcritos tratam de histórias de vida, e modos de lidar com a realidade cotidiana. Podemos fazer inserções nas narrativas e dialogar com a vida cotidiana dos jovens. Analisar o valor que os mais antigos davam ao trabalho, e como os jovens da comunidade entendem o que é trabalho digno de valor. O documento da página 15, ao explicar a história da construção da escola do São Pedro, nos deixa transparecer o valor que a comunidade dava a quem conseguia fazer o trabalho mais pesado. Em um contexto de dificuldades com transporte, a ponte que dá acesso ao bairro São Pedro não existia, e os moradores eram obrigados a atravessar o rio com os materiais da construção em uma canoa. Aquele que carregava quatro blocos era visto com bons olhos aos demais, haja vista que após atravessar o rio Ribeira, havia a necessidade de andar vários quilômetros até chegar ao bairro.

                   Material rico para discutir a atual necessidade de qualificação profissional dos estudantes e a importância de se estudar e ficar no quilombo. Os relatos nos trazem a importância da mulher na sociedade quilombola, era ela que fazia os partos, que curava as crianças. O papel da curandeira, aquela que sabia e sarava as mazelas, onde o cirurgião não chegava, é tema que o professor terá facilidade em associar ao livro didático. Qual seria o tratamento de mulheres como estas na Idade Média?

                O livro Narrativas Quilombolas é organizado em duas partes, um com textos base sobre o conceito de quilombo na luta contra a escravidão, onde Palmares aparece como símbolo, e outro com o conceito atual, onde os quilombos do Vale do Ribeira se enquadram. A história da escravidão africana e o trafico atlântico também perfazem a parte teórica. Por fim, o conceito de quilombo é associado ao lugar, ao território, para os quilombolas a terra é sagrada, portadora de simbologia, e de lutas. O espaço quilombola é espaço de resistência, de conflitos de terra e violência, provocados pela globalização, que proletariza.

4-  Quilombos, comunidades e valores.

                   Favorece a imaginação e a percepção do simbólico o relato do capítulo 1, que é a parte com textos que serão abordados pelo caderno de atividades, cada capítulo contém narrativas e sua posterior análise no caderno citado. O rito funerário é um texto cheio de magia que cativa o aluno, visto que traz o místico, o sobrenatural, na narrativa do [...], os alunos podem apreender a relação com a natureza, o respeito ao falecido e o imaginário sobre o além-vida. O material com as atividades orienta o professor com relação a sites que podem enriquecer as falas dos moradores e traz orientações de como ampliar o conhecimento. Em sua sessão ampliando horizontes, na página 52, os alunos têm acesso a um questionário de pesquisa sobre a situação das comunidades quilombolas no Brasil. Atividade que pode ser em conjunto com geografia, língua portuguesa, história, enfim, promove possibilidades de estudos interdisciplinares.

                    O depoimento do [...] é sobre a cultura tradicional do uso das ervas medicinais versus o saber do médico, o chamado conhecimento científico. Ele conta que a primeira vez que se consultou com um médico foi aos quarenta e cinco anos de idade, e que nunca havia ficado doente, somente tomando remédios da tradição popular, passada de pai para filho. O mesmo relaciona o descrédito dos jovens ao conhecimento sobre o poder curativo das ervas medicinais, ao fato de não estarem registradas em livros. Este ressentimento com a ideia de esquecimento do saber dos mais antigos na comunidade e a negativa desse conhecimento por parte dos médicos, presente nas comunidades quilombolas, é trabalhado no livro de forma a levar o aluno a pesquisar sobre ações que vêm sendo desenvolvidas no país, como por exemplo, na Universidade Federal do Ceará, em que as plantas medicinais são usadas para o tratamento de doenças de pessoas de baixa renda. Ou ainda, a relação entre conhecimento tradicional sobre as propriedades de determinadas plantas e a biopirataria.

 5-  Memória coletiva.

                   Os relatos deste capítulo dão conta do difícil acesso à cidade de Eldorado e a forma de tratamento respeitoso dos mais jovens com os mais velhos. Pedir “bença” (benção) aos pais é um destes costumes que tem acabado, reclamam os depoentes. O trabalho de colheita do arroz fazia parte do cotidiano das famílias ribeirinhas, incluindo aí , os quilombolas. A prática e os modos de colher e plantar o arroz poderiam ser meios interessantes de resgatar a cultura quilombola. Construção de canoas e técnicas de navegação nos rios da região entram no rol de possibilidades.  Valentin destaca que


Seis anos mais tarde a movimentação portuária em Iguape já refletia o impacto da presença da Corte portuguesa no Brasil: das 12 saídas, a maioria se dirigia ao Rio de Janeiro (7 navios) e Santos perdia a primazia do comércio iguapense, com 5 embarcações. As primeiras transportavam principalmente arroz, ao passo que as demais carregavam um leque mais amplo de mercadorias: taboados, café, farinha e milho. ( VALENTIN, 2006, p.26).

                    Trabalhos que envolvam as técnicas e trocas de conhecimentos de produção desse gênero, entre as comunidades tradicionais ribeirinhas e os japoneses também podem ser realizadas tendo a temática de valorização dos conhecimentos da população local do Vale do Ribeira.

                    As falas analisadas nos lembram dos tipos de alimentos usados nas refeições, como batata, cará, banana assada, sempre associadas à saúde robusta, forte e livre das doenças que afetam a comunidade de hoje. A educação feminina faz parte dos textos e a mulher aparece sendo responsável pelas tarefas de torrar farinha de mandioca, socar arroz, colher café, fazer café, enfim, são temas que podem ser vistos de forma adaptada de forma a pensar a origem desses alimentos e as formas de prepará-los. As propriedades vitamínicas podem ser estudadas a fim de estimular o debate sobre as calorias e nutrição das antigas comunidades quilombolas, tendo em vista comparar se realmente os alimentos que os antigos moradores consumiam são melhores que os atuais.

                   Possibilidades são inúmeras, restando o fato de que a educação é tema sempre presente nos diversos relatos, inclusive tocando no assunto dos palavrões e a falta de respeito dos mais jovens com professores e pais.

                   As técnicas de trabalho se aprendiam desde cedo, crianças iam para roça com sete anos ou menos, ficavam olhando o trabalho dos pais na capuava, (roça) aprendiam aos poucos, dia após dia, a lida da roça, já que o estudo era escasso, e a família dependia do trabalho dos filhos mais velhos para ajudar no sustento dos outros menores.

                    Os discursos, sempre trazem a questão da vida dura que se levava e associa-se isto ao fato dos jovens da comunidade quilombola antiga serem mais respeitadores, o respeito é um valor que sempre aparece, além disso, advertem que as muitas facilidades da vida moderna fizeram com que os adolescentes não dessem valor a coisas que eles, os mais velhos, não tiveram oportunidade de ter, um exemplo disto é a facilidade de se frequentar a escola.

                   Mas nem tudo é só trabalho, o jovem de antes também sabia se divertir, brincavam na estrada e se admiravam com as comitivas de bois, cavalos e cabritos, que passavam por eles, e se dirigiam sentido à Iporanga , serra acima, como diziam.

                    Outra maneira ótima para resgatar a cultura quilombola é usar os relatos que nos informam sobre uma prática de sociabilidade do homem caipira, momentos que remetem às regras instituídas e aceitas por todos, como parte integrante de uma estrutura que se organizava nos valores do associativismo e na dependência do outro. O puxirão, ou mutirão, algumas vezes chamado de ajutório, era uma atividade aguardada por todos e consistia em festa ao final de um expediente de serviço. Uma região afastada da cidade, sem circulação efetiva de valores financeiros, quase sempre escassos, se valia da ajuda entre os conterrâneos. O camponês que precisava de mão de obra para plantar uma lavoura de arroz, feijão ou mandioca, pedia ajuda aos amigos para dar conta da empreitada. Enquanto os homens trabalhavam, as mulheres preparavam a comida e, de noite, todos vinham para a tão esperada festa.

                    Os relatos ainda nos ensinam que hoje esta prática caiu em desuso, visto que os jovens não trabalham por festa, e sim, querem receber ao final do dia. A mudança de comportamento cultural pode ser estudada na escola, pesquisas sobre o papel da mídia, da televisão, dos padrões da moda são interessantes para tentar compreender estas mudanças comportamentais. Iniciativas comunitárias neste sentido, de resgate dos puxirões, vêm sendo estimuladas pelas comunidades ao redor da Chules. 

                    Aparecem falas insistindo na ideia de impossibilidade de aplicar a tradição das roças de capuava, visto que a legislação ambiental impossibilitou os cortes de árvores para implantação delas ao longo das comunidades quilombolas. A questão levantada nesta seção do livro se refere ao quilombo Caçandoca, mas, também é realidade enfrentada pelas comunidades quilombolas do Vale do Ribeira. A legislação específica para a realização de roças quilombolas existe, mas a burocracia atrapalha o processo de abertura das roças no tempo certo. Os moradores se sentem desestimulados e muitos são obrigados a trabalhar em fazendas vizinhas aos quilombos. A resolução nº 27 da Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo, publicada no Diário Oficial de 31-03-2010, estabelece, em seu artigo 1º, que:




 Ficam estabelecidos os procedimentos simplificados para os pedidos de concessão de autorização para supressão de vegetação nativa secundária em estágio inicial de regeneração na área do Bioma Mata Atlântica para implantação de roças de subsistência, inclusive em sistema de pousio, para pequenos produtores rurais e populações tradicionais, no âmbito da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB, nas respectivas agências ambientais. (SMA, 2010).

                   Entretanto, as comunidades alegam que a lei ainda impossibilita cortes em áreas com vegetação em estágios mais avançados, como se praticava no passado, além disso,os agricultores reclamam dos prazos e da demora na concessão das autorizações para novas roças.

A burocracia estatal ignora que as roças quilombolas seguem o cronograma da natureza: a época ideal para a abertura da área é julho, quando o clima está seco e, assim, permite que a vegetação fique seca para a queima. O plantio costuma ocorrer em agosto e setembro, e a colheita a partir do próximo ano, dependendo da espécie de cultivar. Por isso, é essencial que as autorizações cheguem, no máximo, até junho do mesmo ano, para que os quilombolas possam iniciar o corte da mata no momento correto. ( ISA, 2018).


                    O excerto acima faz parte de uma campanha do Instituto Socioambiental para que os prazos sejam cumpridos pelos órgãos ambientais responsáveis pela parte burocrática de emissão das licenças, o não cumprimento de prazos tem desestimulado os quilombolas a fazer seus plantios tradicionais. (ISA, 2018).

                    Sobre a burocracia e a demora nos prazos de concessão das licenças ambientais, os técnicos do ISA informam que o serviço de mapeamento das árvores, identificação de plantas, e até mesmo a elaboração de mapas das parcelas que podem ser objeto destas roças poderiam ser feitas pelos quilombolas, pois existem pessoas capacitadas na comunidade, com habilidades para elaborar tais laudos, sempre dependentes de órgãos governamentais para sua feitura.

                   Construção de casas de pau a pique, modos de construir no quilombo, são temas que podem ser trabalhados em conjunto com várias disciplinas. A comunidade do Ivaporunduva desenvolve um trabalho neste sentido, com turistas e grupos de alunos e estudantes universitários de diversos lugares.

                   O caderno de atividades do livro em questão, traz ideias de trabalho que incluem pesquisas com os mais velhos da comunidade. Os questionários do caderno de atividades levam os alunos a tecerem um diálogo com os mais velhos, a fim de se valorizar e preservar a memória que corre o risco de se perder caso os jovens não sejam estimulados a preservá-la.


6-  Práticas culturais.

                    Festas e rituais, pertencimento, entraves religiosos na perpetuação de festas e ritos tradicionais, são alguns dos assuntos abordados nesta seção do livro. Algumas das festas citadas nos relatos são a festa de Santa Cruz, festa de São Gonçalo e os já citados puxirões, com seus tocadores de viola, colheres, viola de bambu e sanfona. A prática dos curandeiros e curandeiras aparecem nos textos e os depoentes sentem que o conhecimento vem se perdendo devido à entrada de religiões evangélicas dentro dessas comunidades quilombolas. O sincretismo religioso também pode ser estudado, visto que mesmo com as proibições das religiões evangélicas, algumas mulheres e homens que detinham tais conhecimentos, ainda estão dispostos a ensiná-los.

                    As festas religiosas e os costumes dos membros da igreja, no caso os padres, aparecem e, estão relacionados ao fato de que o acesso para se chegar aos bairros quilombolas era demasiadamente difícil nos períodos relatados, fazendo com que as festas durassem até três dias, por causa da presença dos padres na comunidade. 

                   Dança da cobrinha e o xote são tratados com saudosismo pelos depoentes, expõe um mundo em que as regras impõem disciplina rígida às mulheres, obrigadas a obedecer aos pais. Interessante se discutir o papel da mulher na sociedade atual, e o papel reservado às moças nos seios das famílias quilombolas da atualidade. 

                    Mais uma vez o tema do mutirão aparece, desta vez explicando o trabalho chamado puiuva . Quem fazia a puiuva só dava almoço aos trabalhadores, depois, o povo ia embora. O forró da noite não incluía a janta e nem o café da manhã do outro dia.

                    A arte da paquera nos é trazida de uma forma bem interessante, os jovens compravam sapatos especialmente para usar em ocasiões de festas de puxirão. As trilhas eram feitas descalço, quando estavam próximos do local da casa que teria a festa, os homens lavavam os pés nos riachos e colocavam os sapatos. As moças , segundo nos contam os mais velhos, gostavam de dançar com quem tinha sapato, vistos com bons olhos, pois sapato não era barato.

                    O carnaval dos quilombolas, trazido à luz neste capítulo, poderia ser um tema interessante para os jovens, o professor poderia trabalhar as diferenças de costumes entre as festas de carnaval atuais e as antigas. A arte de fazer instrumentos e de composição de músicas, nos dão mostras da criatividade que existia nesses bairros. Assunto que se bem elaborado, daria boas aulas.

                   Trabalho de parteira e a imposição da criminalização desta prática, assuntos abordados e que tem relação com a humanização dos partos na atualidade. A gama de temas é enorme, riquíssimo material, completa-se com os ritos funerários. A comunidade valorizava esses momentos, de passagem e de reunião, momentos cheios de magia, onde se bebia o morto e havia o perigo de deixar o mato assombrado. Trabalhos com ritos funerários antigos e atuais podem ser realizados pelos alunos, levando em conta também, a existência de um cemitério quilombola no bairro Ivaporunduva.

7-  Valores civilizatórios

                    Aqui, aprendemos noções de casamento e família, valores de educação e agradecimentos aos mais velhos. Há histórias contando sobre a luta que os quilombolas tiveram no passado contra os brancos que tentavam invadir suas terras.

                    O caderno de atividades traz as origens da contradição e desigualdade do uso da terra no Brasil, este, atrelado à famigerada Lei de Terras de 1850. Depoimentos dos quilombolas nos dão conta da luta que tiveram que travar, nos anos da ditadura, contra grileiros que tentavam tirar-lhes as terras.

                    O papel das associações de bairro é enfatizado, como condição básica para que as terras quilombolas fossem tituladas pelo governo. As associações de quilombolas de Eldorado surgiram graças ao trabalho das mulheres e com apoio da Pastoral da Terra. “A organização político social destas comunidades teve início em meados da década de 1980, com o trabalho de base realizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT)”. 

                   Lutas contra as barragens, por titulação das terras, e a preservação do meio ambiente versus cultura quilombola, são assuntos que perpassam os textos analisados. Preservação de danças, como a Nhá Maruca e a Mão Esquerda, são debatidas no contexto da sensibilização dos jovens face ao esquecimento das tradições.

                   As atividades propostas pelos autores incluem a etnomatemática, estimulando os jovens a se apropriarem das medidas e pesos usados na roça. Braça, alqueire e litro são exemplos de medidas que podem ser estudadas. Debates sobre o racismo, trabalho feminino, o cooperativismo e a questão da luta da terra perfazem este capítulo. 

8- Conclusão

                 O livro Narrativas Quilombolas: dialogar –conhecer – comunicar; traz um conhecimento, que se bem trabalhado, pode ajudar na luta contra a discriminação de comunidades remanescentes de quilombolas, entretanto há que se preparar o professor tanto da escola que fica dentro do território quilombola, quanto os que lecionam em escolas não quilombolas, mas que atendem este público, para que os materiais, quando em poder das escolas, sejam utilizados de maneira plena.

                 As ações da Diretoria de Ensino de Registro estão no caminho certo, projetos como os realizados pelos professores coordenadores do núcleo pedagógico, em que duzentos e vinte professores da rede estadual de ensino tiveram a oportunidade de visitar o quilombo Ivaporunduva, em 2013. (PRÁTICAS ESCOLARES DE INCLUSÃO EDUCACIONAL, p. 22) são importantes, no entanto, esbarram na descontinuidade das ações de formação, ocasionadas em função do corte de verbas dos últimos anos, o que está gerando críticas por parte de educadores e lideranças comunitárias quilombolas.

                   A gestão da Escola Estadual Maria Antonia Chules Princesa, vem articulando, desde o ano de 2016, uma ATPC (Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo), com as comunidades do entorno , visando atender suas demandas e para troca de experiências que poderão ser usadas em sala de aula.

                    A respeito da adaptação curricular na escola pesquisada, está em curso a elaboração de um material didático pedagógico, inicialmente, trabalhado com turma de sexto ano, incluindo todas as áreas do conhecimento, e que vai gradualmente, se ampliando pelos anos até alcançar o terceiro colegial. O trabalho dos professores da escola, em colaboração com os PCNP (Professor Coordenador do Núcleo Pedagógico) é articular as habilidades e competências dos respectivos componentes curriculares do chamado currículo oficial, e adaptá-los ao repertório cultural quilombola.

                    As respostas dadas pelos órgãos públicos às demandas por acesso e permanência dos alunos quilombolas, não vieram acopladas a materiais específicos e treinamento adequado dos quadros docentes que atuavam na Chules, fato que gerou críticas por parte de líderes quilombolas e pais de alunos. As leis e resoluções que tratam do tema da educação quilombola impõem um modelo novo de educação que atenda as necessidades dessas populações, excluídas dos bancos escolares por séculos, ações que buscam incluir os saberes das comunidades quilombolas nas salas de aula, muitas vezes, sofrem resistências, inclusive por parte do corpo docente, principalmente os do ensino primário, como alerta Fernandes (2005).

Esses professores e professoras, em sua maioria, recebem uma formação polivalente e, portanto, precisam de qualificação para trabalhar com essa nova temática curricular. O autor sugere, para tanto, um esforço por parte dos órgãos governamentais ligados à área de promoção da igualdade racial para oferecer, em parceria com instâncias educacionais, cursos de extensão sobre a história da África e de cultura afro-brasileira, bem como publicação de material didático-pedagógico que possa dar suporte técnico à atuação desses docentes no processo de ensino aprendizagem. (FERNADES, 2005, apud FELIPE, p. 29). 

                   Concluímos que houve avanços no processo de elaboração de materiais didáticos específicos para comunidades quilombolas, que o papel das lideranças desses bairros foi determinante em cobrar da Secretaria de Educação de São Paulo a efetivação de pesquisas e registro de sua cultura, personificado no material estudado neste trabalho. Que há boa vontade por parte de técnicos da Diretoria de Ensino de Registro, mas que ações de formação não são contínuas e que programas de Extensão e Mestrado não são estimulados pelas políticas públicas atuais. O exemplo da Chules e seus professores são notórios, no entanto, há um longo caminho a trilhar até que os materiais específicos sejam trabalhados de forma sistemática, que estes cheguem às mãos de todos os envolvidos no processo de educação quilombola e que os professores da base primária também estejam contemplados em formações futuras por parte do poder público. 


9- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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VALENTIN, Agnaldo. Uma Civilização do Arroz: Agricultura, comércio e subsistência no Vale do Ribeira (1800-1880). 2006.405 f.Tese  (Doutorado em História Econômica) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.


  Cadernos do professor  de Geografia e História no link abaixo 2022 CADERNOS DO PROFESSOR